sexta-feira, 21 de março de 2008

No Divã.

Hoje não vou escrever, apenas vou postar uma entrevista com o psicanalista José Angelo Garsa, por Marianne Piemonte da Folha. Pretendo fazer isso com mais frequência, ainda mais que estou fuçando no meu armário e tem bastante coisa interessante, um vasto material. Obviamente vou editar e publicar os pontos mais interessantes, difícil tarefa, pois a entrevista toda é muito boa.
Detalhe: ele foi da primeira turma de psiquiatria da USP.

FOLHA: E A BISSEXUALIDADE?
J.A.G.: Ótimo, deveria todo mundo ser. Macho com macho é biológico, eles são exibidos e competitivos. Muito do desprezo violento dos homens pelo homossexual vem da educação sexual que eles têm, a família condena e quando saem da família, encontram a gangue, que só fala de sexo - e do pior modo possível. É aquele que diz que mulher você usa e descarta, as moças viram um buraquinho simpático. Eu acho que a educação do macho deveria ser menos dura, porque na infância e adolescência o troca-troca é muito comum.

FOLHA: O QUE O SR. TEM CONTRA A FAMÍLIA?
J.A.G.: Durante 50 anos, oito horas por dia, em 80% do meu tempo só ouvi reclamação de família. Ninguém conhece o reverso da família do que eu. Depois que os filhos têm 20 anos, a família é interessante, quando se encontram, já com posições e opiniões definidas, pode ser simpático. Freud já dizia: o centro da neurose é o complexo de Édipo - e isso é família e ponto.

FOLHA: POR QUE É TÃO TERRÍVEL?
J.A.G.: Está suposto que o pai é bom sujeito, que escuta o que você fala e sabe mais. Tudo chanchada. A maioria é ignorante. Quando me dizem "pai do céu", tenho arrepios! Jeová é um horror de autoridade. A mãe é o inverso. No Brasil, boa parte das mulheres trabalha e fica naquele lamento: " Deveria estar com meus filhos". Não, minha filha! Fique longe, é ótimo para ele. O mal do mundo é o apego, a mãe que tem o filho como objetivo de vida, pelo qual ela sacrifica tudo. Todo mundo pensa que ela não vai cobrar porque é mãe. Ela cobra ferozmente, com choradeira e vitimização. Ninguém faz nada de graça, nem mãe. Metade dos drogados do mundo é consequência de atritos familiares, porque os costumes mudam, mas o pai e a mãe não mudam, estão fora do mundo.

FOLHA: E A SEXUALIDADE DO MUNDO HOJE?
J.A.G.: Dizem que sexo foi liberado depois da pílula, dos hippies, que não existe mais problema...Uma banana! A liberação sexual alcançou frases feitas. "Tenho orgasmo sempre" é o oráculo da mulher moderna. O mundo está carente de contato e acolhida. Freud se concentrou demais em fase anal, oral e genital. Quer dizer que o ser humano é boca, rabo, pinto e fim? Ele esqueceu uma experiência famosíssima. Uma cientista pegou dois chimpanzés recém-nascidos, de um lado colocou uma mamadeira e do outro um paninho felpudo aquecido. Eles mamavam e corriam para o outro lado, o que prova que criança precisa mais do carinho do que de leite. Você tem 2 m² de pele, com 500 mil pontos sensíveis. A pergunta é: quanta gente conhece conhece mais do que 10% da própria pele? Aí entra o sexo automatizado, sempre do mesmo jeito, não experimenta, não expande.

FOLHA: NA VIDA ADULTA, O SR. DESCOBRIU 90% DOS PONTOS RESTANTES?
J.A.G.: Vim a vida inteira procurando expandir isso. Não realizei meu sonho, mas fiz bastante. É difícil, porque, se você tenta lutar a favor da sensualidade, tem de desreprimir mil coisas da infância. Hoje, sei amar uma mulher, aprendi a estar junto de corpo e alma.

FOLHA: É mais importante que o sexo?
J.A.G.: O mais importante é um problema sem solução. a relação sexual é hoje muito mais prática, falada e de pior qualidade. O contexto de pele inteira também tem a questão de olhar nos olhos, de amor, não digo amor eterno. Aproveita-se tão pouco do sexo, quanto nos velhos tempos.

FOLHA: E A FIDELIDADE?
J.A.G.: Não há infidelidade quando existe o tipo de amor em que acredito. Se amo uma pessoa de corpo e alma, o que troco com ela não troco com mais ninguém. se eu tiver amor por outra, não será a mesma troca. Se você ama a pessoa e não o conceito do casamento, não existe infidelidade.

Tem mais, mas quem sabe eu publique o restante depois.

Um comentário:

Lucas disse...

Surpreendente! Só isso q tenho pra dizer... Surpreendente da primeira à ultima resposta!!
Muito boa a entrevista! O cara coloca em alguns "dogmas" em questão, e nos faz refletir sobre eles!
E dá pra refletir bastante... rs

Publique o restante da entrevista! Acho q vale a pena!

Sucesso seu blog!

Abço ^^